quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Quem Precisa de Amor?


Quem precisa do seu amor? Você já se fez esta pergunta? Já parou para pensar que enquanto você está sentado em um restaurante com ar-condicionado durante seu horário de almoço existem pessoas realmente necessitadas? Não me refiro aos milhões de órfãos desabrigados na África ou os refugiados da guerra na Síria cruzando o mediterrâneo em direção a Europa. Falo do porteiro do seu prédio, do irmão que você quase nunca vê por falta de tempo, do sobrinho que não simpatiza porque sempre "queimou o filme" da família, da idosa viúva do andar de baixo. Todas estas pessoas estão próximas, ma talvez você nunca tenha pensado que elas têm problemas e necessidades. É por isso que Martin Buber desenvolveu a noção do eu-tu, que significa tratar o outro sempre como uma pessoa (tu) e nunca como uma coisa (isto).

As vezes as necessidades destes que nos cercam são reais, como o que comer ou vestir, as vezes são abstratas, como carência de atenção. Mas você só vai ser capaz de perceber isso se começar a olhar para os outros como tu, e não como isto. Se agir assim, você pode acabar descobrindo ser o único capaz de ajuda-las, e amenizar seu sofrimento.

Jesus uma vez contou uma parábola desconcertante: "Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto. Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado. Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve compaixão. Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e disse-lhe: 'Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver'"

Agora se imagine como um dos ouvintes de Jesus: você já peregrinou mais de uma vez a Jerusalém e conhece bem essa região desértica e perigosa. Sabe como é difícil não topar com assaltantes que se refugiam nestes barrancos e desfiladeiros. É de seu conhecimento também que, esta rota, ao mesmo tempo perigosa, é bastante frequentada. Sacerdotes e levitas passam por ali toda semana depois de terem exercido seus serviços no templo, a caminho de Jericó, importante cidade sacerdotal. Também passam por ali peregrinos e comerciantes com destino a Jerusalém, levando suas mercadorias para a capital.

Ao ouvir falar de um homem assaltado e deixado semimorto na valeta do caminho, você que conhece o lugar e os perigos, sente simpatia e piedade em seu coração. Afinal, é uma vítima inocente, abandonada num caminho solitário e que precisa de ajuda urgente. Este homem poderia ser você! Como não sentir compaixão por ele?

Pare e reflita: na sua vida hoje, quem está sofrendo próximo a você, e que o motivo de dor que o acomete poderia não ter atingido ele, mas sim você?

No caminho daquele homem, felizmente, apareceram dois viajantes: primeiro um sacerdote e depois um levita. Ambos vêm do templo. Já realizaram suas obrigações por lá e estão retornando a sua cidade. O ferido os vê chegar cheio de esperança: são de seu próprio povo; representam o templo, sem dúvida terão compaixão dele. Mas ao se aproximarem, os dois têm a mesma reação: passam pelo outro lado da estrada. Por quê? Têm medo dos assaltantes? Não querem tocar num desconhecido ensanguentado e semimorto para não ficarem impuros (isso os faria ter que retornar e só poderem retomar a viagem dias depois)? Você se sente escandalizado com a falta de compaixão desses dois homens. Como não ajudar um homem abandonado a uma morte quase certa?

No horizonte aparece um terceiro viajante. Não é sacerdote ou levita, não vem do templo. Sequer pertence ao povo eleito. É um odiado samaritano. Provavelmente um comerciante dedicado a seus negócios. O ferido o vê chegar com temor. Pode-se esperar dele o pior. Chegará a liquidá-lo? Mas o samaritano vê o ferido, sente compaixão e aproxima-se dele. Faz pelo ferido tudo o que pode: desinfeta suas feridas com vinho, suaviza a dor com azeite, enfaixa-o para proteger suas feridas da poeira do deserto, coloca-o sobre sua própria montaria, leva-o à hospedaria mais próxima, cuida dele e arca com todos os gastos que forem necessários. Este homem, definitivamente, não parece alguém preocupado com suas mercadorias; assemelha-se mais a uma mãe cuidando com ternura do filho ferido.

Sabe, o conceito abordado por Jesus nesta parábola rompe todas as barreiras. É muito mais profundo do que inicialmente imaginamos. Jesus vê o reino de Deus na compaixão de um odiado samaritano. Já não há classificação entre amigos e inimigos, entre membros ou não de seu corpo (a igreja), entre puros e impuros, entre ricos e pobres. A misericórdia de Deus pode vir de fora do templo, de fora dos canais religiosos "oficiais", pode vir de um inimigo! É desconcertante. Jesus olha a vida a partir da sarjeta, com os olhos das vítimas necessitadas de ajuda. Não há dúvida que para Jesus a melhor metáfora de Deus é a compaixão para alguém ferido. Física ou emocionalmente.

O reino de Deus torna-se presente onde as pessoas atuam com misericórdia. Até um inimigo ou um renegado podem ser instrumento e encarnação do amor compassivo de Deus. A mensagem de Jesus constitui um verdadeiro desafio para todos nós: É preciso esquecer preconceitos e inimizades seculares, é preciso reordenar valores. É preciso estender a misericórdia de Deus a todos e despir-se de valores provincianos de grupos sociais.

A pergunta que você deve se fazer é: "Quem tem necessidade de que eu me aproxime dele, me torne próximo e responda à sua necessidade?" É o sofrimento de qualquer ser humano caído no caminho que nos deve ensinar como agir com amor compassivo.

domingo, 25 de outubro de 2015

O Sofrimento


O sofrimento é um professor. Um professor experiente, um Ph.D especializado na vida. Seu ensino torna mais sensível nossa percepção da condição humana. Depois de cada aula do sofrimento, somos capazes de discernir melhor a impermanência, as ilusões, a fragilidade, as futilidades, a vanidade; a nobreza, a honra, a moral, o caráter e a beleza, relacionados à existência.

Buda disse que estar vivo e consciente é sofrer. Se olharmos para esta afirmação por outro prisma, veremos que ele estava correto. Jesus confirma ao dizer "no mundo tereis aflições". É razoável, portanto, afirmarmos que o sofrimento é "onipresente" entre os seres humanos. Um tipo fundamental de mal-estar pelo qual todos passam, sejam quais forem as causas específicas. Ricos e pobres, homens e mulheres, negros e brancos, jovens e velhos; sofrem igualmente, embora o sofrimento de cada um pareça a si mesmo ser único ou maior que dos outros.

Você conhece alguém que nunca tenha sofrido em nenhum momento? Você também não sofre de vez em quando? Há quem suporte o sofrimento de maneira mais estóica ou humorística que os outros, mas todos, seguramente, sofrem de alguma coisa às vezes, ainda que exprimam isso de maneiras diferentes. Alguns sofrem em silêncio; outros protestam em voz alta. Alguns oram e entregam sua dor a Deus ou mesmo a algum santo, outros se tornam cínicos. Alguns culpam os outros; outros culpam a si mesmos. Alguns odeiam ou matam os outros; outros odeiam ou matam a si mesmos. Alguns buscam fugir do sofrimento; outros sofrem por tentativas de fuga. Alguns atingem metas para distrair-se do sofrimento; outros sofrem por atingirem essas metas ou pela própria distração.

A boa nova é que Jesus nos ensina a lidarmos com o sofrimento. Toda a história da intervenção divina na humanidade, aliás, é repleta dessas lições. A travessia do mar Vermelho poderia ser traduzida por travessia do mar de sofrimento. Ao chegar do outro lado, o povo de Israel passou pelo sofrimento com êxito. E assim também nós podemos e devemos fazer.

Pense na mensagem de Jesus como uma aula de natação: nos ensina a atravessar o mar de mal-estar e chegar à praia do bem-estar. De fato, Ele nos ensina a nadar, nos da trajes de banho e nos previne das correntezas traiçoeiras do caminho. Apenas não nada por nós. Ele está do outro lado esperando para nos saudar como vencedores.

No entanto, ele nos adverte que ao atravessar o mar de sofrimento e chegar a praia de bem-estar, não é o fim de tudo. Uma vez um sábio pastor disse: existem três tipos de pessoas: as que estão passando por tribulação, as que estão saindo da tribulação e as que estão entrando na tribulação. O fim de um ciclo de dor nos prepara para toda uma mistura de outros sofrimentos vindouros. Se você está passando por um grande sofrimento, saiba que, quando acabar, você estará livre para sofrer por outros motivos. Sofrer por doenças, por morte, por morte prematura de entes queridos, por maus casamentos, por más colheitas, mau tempo, maus vizinhos, desemprego, exploração, tributação e tudo o mais. Muito embora também esteja livre para ter períodos  de bons momentos, lembranças felizes, superação no trabalho, um grande amor, paz em sua casa, alegria entre amigos e familiares, etc, entre os ciclos de sofrimento.

O importante disso tudo é saber que há alguém disposto a dividir o peso do seu sofrimento com você. Esse alguém é Jesus, e ele oferece um ombro amigo. Mais que altruísta, ele é o próprio Deus criador de todo o universo, que ama sua criação. Você é parte da criação dele, e por isso ele oferece amor paternal. Aceite, e você verá que seus sofrimentos serão menos doídos a partir de então.

domingo, 18 de outubro de 2015

Bom aos Olhos de Deus


"Dois homens subiram ao templo para rezar: um era fariseu, o outro publicano. O fariseu, de pé, rezava em seu interior dessa maneira: "Ó Deus! Dou-te graças porque não sou como os outros homens, ladrões, injustos, adúlteros, nem mesmo como esse publicano. Jejuo duas vezes por semana, dou o dízimo de todos os meus lucros". Por sua vez, o publicano, mantendo-se à distância, nem se atrevia a levantar os olhos para o céu, mas batia no peito dizendo: "Ó Deus! Tem compaixão de mim porque sou pecador!" Digo-vos que este desceu para casa justificado, e não aquele."

Geralmente esta parábola contada por Jesus é usada para ilustrar como deve ser nossa oração. Isso é verdadeiro, mas assim como no caso da parábola do "grão de mostarda" (que vimos anteriormente), se observarmos com atenção, perceberemos uma lição mais abrangente ensinada por Jesus. Ele destaca três personagens: o fariseu, o publicano e o templo onde Deus habita.

Dos ouvintes imediatos de Jesus, provavelmente todos já haviam peregrinado até o templo (possivelmente por mais de uma ocasião), que era o centro de seu povo e religião. Só ali podia-se prestar culto a Deus. Eles chamavam o templo de "a casa de Deus", pois ali habitava o Deus santo de Israel. Dali Ele bendizia e protegia seu povo. Em outra época, neste mesmo templo, no lugar mais sagrado, estivera a arca da aliança e dentro dela as tábuas da lei. O templo representava a presença de Deus que reinava sobre seu povo por meio dessa lei. Com que alegria apresentavam-se diante dele todos aqueles que a observavam fielmente! O fariseu não é exceção. Provavelmente os dois sobem ao templo na hora em que se oferecem sacrifícios de expiação pelos pecados. Enquanto os sacerdotes realizam os ritos, eles se retiram para examinar sua consciência.

No caso do fariseu, todos já podiam imaginar o que sua consciência dizia, pois todos sabiam bem como eram os fariseus: um homem piedoso que cumpre fielmente os mandamentos, observa estritamente as normas de pureza ritual e paga escrupulosamente os dízimos. É dos que sustentam o templo. Sobe ao templo sem pecado. Deus não pode senão abençoa-lo.

Já o publicano ou arrecadador era alguém que vivia de uma atividade desprezível. Trabalha para arrecadar impostos sufocantes e subir na vida. Sua conversão é impossível. Não poderá retribuir os abusos que cometeu nem retribuir suas vítimas o que lhes roubou. Não pode sentir-se bem no templo. Ali não é o seu lugar.

O fariseu ora de pé, sem nenhum temor. Sua consciência não o acusa. Ele não é hipócrita, tudo o que diz é real. Cumpre fielmente todos os mandamentos, jejua duas vezes por semana, embora a lei só exigisse uma vez ao ano, paga o dízimo de tudo o que ganha, enquanto a lei cobrava somente os dízimos dos produtos do campo. Não se atribui mérito algum, Deus é quem o sustenta. Se este homem, um modelo de fidelidade a Deus, não é justo, quem o será? Com certeza pode contar com a benção de Deus, é o que pensavam os que ouviam Jesus. É o que pensamos nós. Você conhece alguém que, aos seus olhos, é como este fariseu? Alguém que você crê, é mais digno da presença do Senhor que você mesmo(a)?

O arrecadador de impostos, por sua vez, mantém-se à distância. Não se sente a vontade, não se acha digno daquele lugar santo. Ele sabe o que os que estão a sua volta pensam a seu respeito: desonesto, infiel, corrupto. Sequer atreve-se a levantar os olhos do chão, e bate no peito para reconhecer seu pecado e sua vergonha. Não promete nada. Não pode restituir o que roubou de tantas pessoas cuja identidade desconhece. Não pode deixar seu trabalho e mudar de vida. Não tem outra saída senão abandonar-se a misericórdia de Deus. "Ó Deus, tem compaixão de mim" ele ora. Não faz senão reconhecer o que todos já sabem. Ninguém gostaria de estar em seu lugar. Deus não pode aprovar sua vida de pecado. Você já se sentiu assim? Já esteve em algum templo e, olhando para o lado, reconheceu um publicano e desejou não estar em seu lugar? Ou já se sentiu tão indigno e desejou não ser você mesmo?

Jesus conclui que o fariseu não encontrou o favor diante de Deus. Ora, tanto aquelas pessoas como nós pensamos: qual o pecado do fariseu? Qual sua falta para não merecer a graça de Deus? No templo, Deus acolhia os justos em sua presença e excluía os pecadores e impuros. Estaria Jesus contradizendo Deus? Como pode Jesus dizer que Deus acolhe o impuro e rejeita o justo?

A verdade é que as coisas já não funcionam mais a partir da justiça elaborada pela religião. A observância da lei e o culto do templo são substituídos por um convite a viver da misericórdia insondável de Deus.

Jesus quer atrair você para uma experiência real que todo ser humano percebe no fundo do seu ser. Quando alguém se sente bem consigo mesmo e diante dos outros, quando se apoia em sua própria vida, não parece precisar de mais nada. Mas quando a consciência o declara culpado e desaparece a segurança, não sente então o ser humano a necessidade de refugiar-se na misericórdia de Deus e somente em sua misericórdia?

Quando alguém age como o fariseu, situa-se diante de Deus a partir de uma religião na qual não há lugar para o arrecadador de impostos. Quando alguém se confia a misericórdia de Deus, como o arrecadador, situa-se numa religião onde cabem todos.

Não confie em você mesmo, tampouco menospreze a si mesmo. Tão somente confie na misericórdia de Deus.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Fantástico Como um Grão de Mostarda


"Com o reino de Deus acontece o mesmo que acontece com um grão de mostarda. É menor que qualquer semente que se semeia na terra; mas, uma vez semeada, cresce e se torna maior que todos os arbustos e deita ramos tão grandes que os pássaros do céu aninham-se à sua sombra."

Jesus poderia ter falado de uma figueira, uma palmeira ou uma vinha, como tradicionalmente os rabis faziam. Mas ele não era como os rabis de sua época.

A linguagem de Jesus é desconcertante e sem precedentes. As pessoas esperavam a vinda de Deus como algo grande e poderoso. Naquela época, os esperançosos recordavam de maneira singular do profeta Ezequiel, que falava de um "cedro magnífico" plantado por Deus em "uma montanha elevada e excelsa", que "lançaria ramagem e produziria fruto", servindo de abrigo a todo tipo de pássaros e aves do céu.

No entanto, de maneira surpreendente, Jesus escolhe a semente de mostarda, a menor semente conhecida até então (e a menor até hoje, ao menos no campo proverbial): um grão do tamanho de uma cabeça de alfinete, que com o tempo se transforma num arbusto de três ou quatro metros, no qual, por volta de abril, se abrigam pequenos bando de pintassilgos, que gostavam muito de comer seus grãos. Esta era uma cena que todo camponês na palestina podia contemplar ao entardecer.

Geralmente os evangelistas destacam a pequenez da semente em contraste com a altura da planta. Esta é uma boa comparação. Porém, se observarmos com atenção o texto, veremos que Jesus falava de algo mais profundo.

Para aquelas pessoas, a ação de Deus era como o cedro, que faz pensar em algo imponente, grandioso, poderoso. E esta é a grande metáfora: a semente de mostarda sugere algo fraco, insignificante, pequeno.

Nós, assim como os primeiros ouvintes de Jesus, esperamos algo fantástico e grandioso de Deus em nossas vidas. Queremos milagres e revelações hollywoodianas, pensamos que provisões e curas dignas de um filme são a verdadeira ação de Deus em nossas vidas, e prova de que estamos "bem conceituados" com Ele, sendo aprovados.

Essa postura, ao contrário do que pensamos sumariamente, é quase uma heresia. Primeiro porque NADA do que possamos fazer nos fará mais ou menos merecedores da graça salvadora de Jesus. Depois que, qualquer experiência sobrenatural que você possa vir a ter, não é privilégio seu. Somos todos igualmente pecadores e indignos da presença de Deus, lembra? Sendo assim, Deus proporciona grandes experiências espirituais a qualquer que o buscar, como diz o profeta Jeremias. E ainda, o extraordinário, o cedro, até acontece; temos relatos bíblicos e dois mil anos de biografias para comprovar. Mas o verdadeiro milagre é o grão de mostarda, o imperceptível.

A ação salvadora de Deus se deu de forma deveras humilde, através de Jesus. Hoje não é diferente: um dia de sol inesperado na vida de quem trabalha com obra, um dia chuvoso repentino na vida de um agricultor. Um trânsito inesperadamente bom no dia de quem vai passar horas dirigindo entre bairros na sua cidade, uma desistência de última hora num consultório médico em que você, que está sentindo-se mal ha dois dias, pode ser encaixado e atendido.

Quero encorajar você a ver a verdadeira ação de Deus, o grão de mostarda em sua vida. E quando o fizer, agradeça a Ele por algo tão simples mas ao mesmo tempo tão fantástico.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

As Coisas Precisam Mudar


Você já parou para pensar o que de fato Jesus esperava (e espera) das pessoas no mundo? Jesus falou tanto do reino de Deus, mas você já pensou em sobre como Ele imaginava sua implantação? O que será que Jesus pensava que deveria acontecer para que o reino de Deus se concretizasse em algo bom para as pessoas? Será que Ele pensava apenas na conversão daqueles que o ouviam, para que Deus transformasse seus corações e reinasse num numero cada vez maior de seguidores? Será que Jesus buscava apenas a purificação da religião ou pensava numa transformação social e política em Israel, no Império romano e, definitivamente, no mundo todo?

Certamente Jesus não pregou um reino de Deus vago ou subjetivo. A irrupção de Deus pede uma mudança profunda. Jesus chama todos a mudarem suas maneiras de agir e pensar. Jesus nos ensina que para "entrar" no reino de Deus é preciso inserir-se na dinâmica proposta pelo próprio Deus e construir a vida conforme Ele deseja.

Para Jesus, é preciso que uma sociedade seja um povo que se pode dizer que Deus reina entre eles; ser inteiramente de Deus. Uma nação onde não há brigas entre família, corrupção, insultos, agressões, abusos dos mais fortes e esquecimento dos mais indefesos. Longe disso, um povo livre de todo tipo de escravidão e opressão, onde todos possam desfrutar de maneira justa e pacífica de sua terra e seu lar, onde não há explorados nem exploradores, onde as crianças não morrem de fome e os idosos vivem uma vida digna. Isaías 65:20-22 diz: "Nunca haverá nela uma criança que viva poucos dias, e um idoso que não complete os seus anos de idade; quem morrer aos cem anos ainda será jovem, e quem não chegar aos cem será maldito. Construirão casas e nelas habitarão; plantarão vinhas e comerão do seu fruto. Já não construirão casas para outros ocuparem, nem plantarão para outros comerem.".

Nos tempos de Jesus, muitos pensavam que a única maneira do reino de Deus chegar era a expulsão dos romanos impuros e idólatras. Essa visão míope é repetida por nós hoje em dia, infelizmente. Muitos pensam que só é possível um país melhor com mudanças em todos os escalões do governo e uma reforma política. Sem dúvida, esse argumento é valido, mas é apenas parte do processo. Parte de um processo que começa nos lares, escolas, igrejas e demais locais de convivência.

Pelo que podemos saber da Bíblia e fontes históricas, Jesus nunca teve em mente uma estratégia de caráter político ou mesmo religioso. O importante, segundo Ele, é que todos entrem na dinâmica do reino de Deus. Não é um compromisso religioso, mas uma atitude com profundos reflexos nas ordens políticas e sociais. Porque os que governam, os que julgam e os que elaboram leis são pessoas, seres humanos, que eventualmente estão na porta ao lado. Se essas pessoas forem inseridas no reino de Deus, também vão inserir o reino de Deus na sociedade. E é nosso compromisso fazer parte deste movimento.

Para Jesus, não é possível entrar no reino e acolher a Deus como salvador e ao mesmo tempo acumular riqueza as custas dos pobres. Veja, não é uma questão de quantia; cada um pode ter o quanto lhe for possível e permitido. O que Jesus trata é da exploração, da desigualdade. Ele trás de volta uma nuança da lei de Moisés ha muito esquecida: "abençoe na medida que tem sido abençoado". Nós precisamos viver isso. E precisamos levar isso a cada pessoa a nossa volta, para que toda a sociedade seja contagiada e uma mudança real aconteça em nosso país.

Uma coisa interessante a respeito da visão de Jesus de "reino" pode ser notada em uma palavra: "basileia" tem sido traduzida como reino, mas na época de Jesus era específica para referir-se ao "império" de Roma. O que Jesus quer dizer com isso é que devemos "abandonar" o império desse mundo, ou seja, abandonar os valores pregados pelo mundo. O mundo prega corrupção e ganho de vantagem a custa de terceiros; em contrapartida, no reino de Deus, a lógica é a justiça social e o amor ao próximo.

Quando Jesus diz "Não andem preocupados com coisa alguma, nem o que comer, nem o que vestir. Busquem primeiro o reino de Deus e todas essas coisas serão acrescentadas". Ele não está falando de uma intervenção divina milagrosa como erroneamente pensamos, mas sim uma mudança de comportamento que possa levar TODOS a uma vida mais digna e segura.

Se você acreditar nisso, a realidade de nossa nação vai mudar. Eu acredito, e estou fazendo minha parte. Mas como diz o ditado, uma andorinha só não faz verão. Se você se juntar a mim nessa luta, nosso verão, o futuro do Brasil, será infinitamente melhor do que podemos imaginar.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Deus, nosso amigo

"O Senhor é um Deus misericordioso e clemente, lento para a cólera e rico em amor e fidelidade"
Salmo 86:15

A linguagem empregada por Jesus para falar de Deus sugere o conteúdo dos três termos hebraicos que aparecem nesse salmo:

  • Rahum / misericordioso - Esta palavra indica uma compaixão que nasce das entranhas e comove toda a pessoa;
  • Hannun / clemente - Expressa um amor gratuito, incondicional, transbordante;
  • Hesed / amor fiel - Fala da fidelidade de Deus a seu amor pelo povo e pelas pessoas;
Jesus não cita as Escrituras diretamente para falar do amor de Deus, nós o fazemos; ele a intui contemplando a natureza e convida as pessoas mais simples a descobrirem que a criação está cheia da bondade de Deus. O reino de Deus, apresentado por Jesus, é algo muito simples, está ao alcance de todos, inclusive daquelas pessoas pobres, analfabetas e socialmente excluídas.

Jesus traz uma mensagem concreta e simples, que até os mais ignorantes entendiam: A primeira coisa para Jesus é a vida das pessoas, não a religião. Ao ouvi-lo falar e, sobretudo ao vê-lo curar os enfermos, libertar de seu mal os endemoninhados e defender os mais desprezados, eles têm a impressão de que Deus realmente se interessa por suas vidas e não tanto por questões "religiosas" que a eles escapam. Essas pessoas não estavam enganadas.

Não é difícil encontrar pessoas que sentem-se "indignas" da presença de Deus; Outras sentem-se preteridas, achando que Deus tem mais amor por outros do que por elas, como se elas fossem de algum modo inferiores; Há ainda algumas seitas cristãs que pregam o sucesso financeiro e material, conforme os padrões mundanos, e alegam que os que atingem tais metas "buscam mais e melhor" a Deus que os demais, gerando nas demais pessoas (que não atingem essa "meta") um grande sentimento de rejeição e inferioridade.

O ministério de Jesus é o grande exemplo para tudo em todas as áreas de nossas vidas. Neste caso não é exceção. Veja você que o Deus encarnado não foi ao templo construído em homenagem a Ele na cidade dEle dirigido por pessoas treinadas e preparadas durante séculos para dirigir ofertas e sacrifícios a Ele. Ele escolheu os mais pobres e necessitados, a estes dirigiu toda sua atenção. É por demais sugestivo. Essa atitude, como todas as outras de Jesus, tem um significado. E este significado é claro: Deus não faz acepção de pessoas.

Seja o que for que o faz sentir-se menos especial para Deus que um diácono, presbítero, pastor, bispo, apóstolo, ou mesmo de um cristão sem título que senta-se ao seu lado nos domingos; mas que de algum modo parece aos seus olhos "melhor" cristão que você; esqueça. Conhecimento teológico não faz ninguém melhor ou mais íntimo de Deus, vide os sacerdotes do templo na época de Jesus. "Busca" frenética por experiências sobrenaturais também não. Caso contrário, Jesus mencionaria os monges de Qunran que, naquela época, gabavam-se de sua espiritualidade transcendental e suas experiências místicas.

Você, seja quem for ou o como vive a vida, é especial para Deus. "Ahhh, mas eu estou em pecado" Alguém pode dizer. Jesus se encarrega de responder: "Eu vim para os enfermos, não para os que têm saúde". Jesus veio para lhe ajudar a lutar contra o pecado. Mas mais do que isso, muito mais do que isso, ele mostra que é possível viver com saúde e paz, através do reino de Deus, que já está entre nós.

Jamais pense que alguém é mais digno da presença de Deus que você, ou que Deus tem mais favor para uns que para com outros. Deus ama você na mesma medida que ama a toda a humanidade. Lembre-se: Ele é seu Pai.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Deus Já Está Aqui


Jesus surpreendeu a todos com essa declaração: "O reino de Deus já chegou". A segurança com que anunciava deve ter causado verdadeiro impacto. Sua atitude era demasiado audaz: não continuava Israel dominado pelos romanos? Não continuavam os camponeses oprimidos pelas classes poderosas? Não estava o mundo cheio de corrupção e injustiça? Jesus, no entanto, fala movido por uma convicção surpreendente: Deus já está aqui, atuando de maneira nova. E ainda está, até os dias de hoje.

Não se tratava da intervenção decisiva a favor de Israel no campo militar ou político; a presença do próprio Deus que faz-se sentir e já podia ser captada desde então. No mais profundo da vida das pessoas daquela época, já se podia perceber sua presença salvadora. 

Marcos registra "O tempo se cumpriu, e o reino de Deus aproximou-se. Convertam-se e creiam nessa boa nova". Essa linguagem era inovadora, jamais utilizada em toda a história até então. Antes os profetas evocavam o juízo divino vindouro; João Batista falava da eminente manifestação de Deus. Jesus, no entanto, não fala da futura manifestação de Deus, não diz que o reino está mais ou menos próximo. Para Jesus, o reino já chegou, está aqui, e ele o experimenta diariamente. Por isso, apesar de todas as aparências contrárias, Jesus convida todos a crerem nessa boa notícia.

O ceticismo existente hoje, também tomou alguns naquela época: "Como se pode dizer que o reino de Deus já está presente?", "Onde pode ser visto ou experimentado?", "Onde está o cataclismo final e os terríveis sinais que acompanharão sua intervenção poderosa?". Jesus responde de forma desconcertante: "O reino de Deus não vem de forma espetacular nem se pode dizer: 'Ei-lo aqui ou ali'. No entanto, o reino de Deus já está entre vocês". Ou seja, não se deve andar buscando nos céus sinais especiais. É preciso esquecer os cálculos e conjecturas que fazem adivinhos e visionários. Não se deve pensar numa vinda visível, espetacular ou cósmica do reino de Deus. É preciso aprender a capturar sua presença e seu senhorio de outra maneira, porque "o reino de Deus já está entre nós".

Você pode perguntar: Mas afinal, o que posso aprender com isso? Simples: Que a vinda de Deus para impor sua justiça não é uma intervenção terrível e espetacular, mas uma força libertadora, humilde mas eficaz, que está aí, no meio da vida, ao seu alcance, ao meu alcance, ao alcance de todos que acolherem com fé.

Não é difícil encontrar pessoas que, em seu entendimento, o reino de Deus se trata de "momentos" em locais "sagrados" que se pode "sentir algo". Pessoas que separam um momento especial para Deus aos domingos, e vivem de segunda a sábado sendo seus próprios senhores. É comum também pessoas acharem que é mais fácil "conectar-se" com Deus numa igreja, durante um culto, pois "Deus está ali"; como se não fosse possível ou conveniente para Ele estar também em uma praça ou dentro de um estacionamento. Existem muitas pessoas que creem na doutrina da Depravação Total, vivendo uma busca intensa e subjetiva por Deus, esquecendo-se de que ela mesma é imagem e semelhança do próprio Deus, o que lhe permitir ter algum discernimento espiritual, mesmo que distorcido pelo pecado. Há ainda pessoas que costumam ser inconscientemente egocêntricas, colocando-se como vítimas diante de Deus, que deve ajudá-las urgentemente em suas labutas diárias para diminuir seu sofrimento.

No entanto, Jesus não disse que o reino está dentro de nós, dentro da igreja, ou na boca do pastor; mas sim no nosso meio. Jesus não ajudava pessoas porque isso passava uma imagem boa, como muitos de nós pensamos ser necessário para ser "crente"; Jesus curava, ensinava, abraçava porque é assim que se vive o reino de Deus. E é isso que ele espera de nós. Quando alguém se depara com o reino de Deus, passa a pedir menos intervenção divina em sua vida, e passa ele próprio a ser intervenção divina na vida do outro.