quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Confiando em Deus para um 2016 Melhor



"Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês, diz o Senhor, 'planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, plano de dar-lhes esperança e um futuro'" - Jr. 29:11

O profeta Jeremias escreveu durante um período de efervescência política, onde o modesto reino de Judá vinha alternando monarcas corruptos com grande frequência. Naquele mesmo período, Jeremias foi enviado à Babilônia pelo rei Zedequias, para entregar cartas a uma parte do povo que já estava exilada.

Um homem chamado Hananias liderava um grupo de homens que divulgava, dentre outras falsas profecias, que o período do cativeiro seria curto, Em resposta, Jeremias instruiu o povo a não dar ouvidos a palavras que não vinham do Senhor, simplesmente porque elas soavam mais suaves. Ele também alertou o povo que muitas vezes a vontade de Deus é nos levar a lugares e situações que julgamos não serem as melhores para nós.

O Brasil vive uma crise sem precedentes. Assim como Judá há 2.500 anos, estamos nas mãos dos corruptos e interesseiros. Em 2015 sentimos reflexos como não sentíamos há 30 anos. Inflação descontrolada, queda brusca do poder econômico de todas as classes sociais, crise na saúde, crise na educação, desemprego (47% dos chefes de família estão desempregados em dezembro deste ano). Sentimo-nos desamparados por quem supostamente deveria lutar por nós, exatamente como aqueles judeus exilados na Babilônia.

Não é difícil encontrar cristãos que ao se perceberem no olho do furacão, questionam a Deus o porquê disso tudo. "Por que nasci neste país?" "Como reduzir significativamente o sofrimento das pessoas?" "Por que Deus não levanta um homem - ou um grupo de homens - para mudar esta situação?" "Por que os Estados Unidos e Europa conseguem e nós não?"

A verdade é que Deus permitiu àquelas pessoas passarem por isso para que aprendessem a confiar no Senhor. Muitos deles estavam no cativeiro, mas ainda tinham suas famílias, o que comer e o que vestir. Talvez estejamos em situação semelhante e não estejamos conseguindo enxergar que Deus tem nos preservado.

E é exatamente isso que precisamos fazer para ter paz no coração, para vivermos com esperança. Deus enviou tempos difíceis a eles, mas ao mesmo tempo prometeu um refrigério logo mais à frente. Aquelas pessoas puderam ver a queda dos corruptos e da Babilônia, dos que os destruíram, assim como estamos, mesmo que modestamente, começando a ver os corruptos que roubam o dinheiro da merenda dos alunos das escolas públicas irem pra cadeia.

Mas o mais importante é que aquelas pessoas descansaram no Senhor. Confiaram nele, e depois do tempo determinado por Deus, puderam voltar para sua terra e reconstruí-la. Com a atual crise alguns perderam o emprego, outros não conseguem medicação para um tratamento específico. Outros viram ruir a esperança de obter uma bolsa de estudos para seus filhos. No entanto, este não é o final da linha, porque, como canta Luth, "Canaã é logo ali". 

Confiando no Senhor, não temeremos o pavor da noite, a flecha que voa de dia ou a serpente que se move debaixo da terra. Depositando nossa ansiedade e medo no Senhor, ele segurará nossa mão e nos ajudará a caminhar por este vale, a atravessar toda sombra e morte e, quando menos esperarmos, estaremos na bonança. Porque este é o plano do Senhor, que confiemos nele, por onde quer que andarmos ou ele nos enviar.

Que 2016 seja um ano guiado pelo Senhor!

sábado, 28 de novembro de 2015

O Homem, a Religião e o Sofrimento


Ser um religioso dedicado não elimina no homem sua predisposição ao sofrimento. As dores da alma são algo que se aproxima de todos: jovens e idosos, homens e mulheres, crentes e incrédulos. Pessoas sofrem. Religiosos sofrem. Não religiosos, também.

Se Deus é infalível, superior e tudo pode,  então por que permite o sofrimento?

As escrituras sagradas nos ensinam a viver e compartilhar amor, paz, tolerância e esperança, mas também nos trazem fatos que registram o sofrimento vivido por homens piedosos, obedientes e amigos de Deus. Daniel, , Davi, Pedro, Paulo, Moisés, Ester, Noemi, Maria e mesmo Jesus!... em algum momento sofreram. Acaso o sofrimento desses homens e mulheres dá pistas de algo falível no caráter de Deus? Certamente, não.

Engana-se quem associa religião, hábitos de ida à igreja, leitura da Bíblia, orações e/ou boas ações como um tipo de passaporte para a vida leve e sem sofrimento neste mundo. Associar religião à falta de tristezas é um caminho enganoso, que mais cedo ou mais tarde, vai se provar falso. Foi Jesus quem nos advertiu que teríamos aflições no mundo (João 16.33). Por que então insistir que a prática religiosa reduz as chances do sofrimento?

Deus não se relaciona conosco através da religião, mas pelas situações da vida que potencialmente nos aproximam de seu amor e nos ensinam a depender dele. Jesus não ofereceu ao homem uma religião, pelo contrário, convidou todos a romperem com as práticas que valorizavam mais os processos que as pessoas; mais os processos que a adoração sincera.

Com seu exemplo, Jesus nos ensinou a transformar sofrimento em vida. A vida de Jesus abençoa a nossa, e em ciclo virtuoso, nossa vida pode abençoar a de nosso próximo. Isso é fantástico! E como isso acontece na prática? É a religião? É a caridade? É o amor?

É a intimidade com os ensinamentos de Cristo que pode transformar  nossa capacidade de amar (e de permitir ser amado) em meio à dor.

Agir como o Mestre nos ensinou é praticar o amor, que em última análise é o melhor unguento para o sofrimento.


Pedro Madsen & Jaci Madsen

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Ahhh, o Sofrimento...


Basta ser humano para potencializar todo tipo de dor e sofrimento. Todos nós sofremos mais cedo ou mais tarde, e a maioria das pessoas passa uma parte grande do seu tempo buscando evitar, fugir ou transformar o sofrimento.

Sogyal Rinpoche, grande mestre budista tibetano, ensina que todo sofrimento tem origem nos martírios gêmeos de ter e de não ter. Se o sofrimento humano reduz-se ao ter e não ter, não me atrevo a opinar. Mas sei que sempre se pode sofrer, e por qualquer número de razões. Pode-se sofrer por causa do passado ou do futuro. Pode-se sofrer por si mesmo ou pelos outros. Pode-se sofrer pelo que se tem ou não se tem. Pode-se sofrer por crenças ou descrenças. Pode-se sofrer porque Deus nos faz sofrer ou porque Ele não nos faz parar de sofrer. Pode-se sofrer porque se está vivo ou porque se está morrendo. Pode-se sofrer em nome do amor, da arte, da ambição ou do próprio sofrimento. Pode-se sofrer porque se sofre demais ou de menos. E pode-se sofrer porque nos recusamos a extinguir nosso sofrimento e, em vez disso, fazemos os outros sofrerem também.

talvez tenha experimentado todos esses tipos de sofrimento. A Teodiceia (a justiça de Deus diante do sofrimento humano), em última análise, é um mistério para nós. Mas nem por isso deixa de nos apresentar lições. A história de Jó levanta a possibilidade de nunca sabermos o motivo do sofrimento ter nos acometido. Em contrapartida, também acena com a reconfortante ideia de que Deus oferece a si mesmo, sua presença amorosa como sustento durante o sofrimento.

Jesus ensinou que devemos buscar ser parecidos com ele, ou seja, com Deus. Isto significa que Deus espera que também nos ofereçamos, assim como Ele o faz, como alento ao sofrimento de terceiros.

Seja qual for o motivo do seu sofrimento, guardá-lo para si, fugir dele ou repassá-lo não trará solução definitiva. Transformá-lo em bem é o que Jesus faria, e espera que façamos. Transformar algo doloroso para você em algo útil para os outros. Se você consegue, através do seu sofrimento, perceber o sofrimento alheio, pode ajudar o outro a dar fim ao sofrimento. Dessa maneira, mesmo que você não seja capaz de se ver livre por completo do seu sofrimento, irá diminuí-lo ao ajudar a diminuir o sofrimento dos outros. Transformar seu próprio sofrimento no não sofrimento dos outros é a maior realização que se pode aspirar na vida. E é este o objetivo explícito de Jesus para sua vida.

sábado, 21 de novembro de 2015

A Enfermidade e a Cura


Todo enfermo anseia por um dia libertar-se da sua enfermidade a fim de desfrutar novamente de uma vida sadia.

Nos tempos de Jesus, ao ver-se enfermo, o israelita, em geral recorria a Deus. Examinava sua vida, confessava seus pecados diante de Deus e pedia pela cura. As vezes recitava um dos muitos salmos compostos por enfermos: "Tem piedade de mim, Senhor, cura-me, porque pequei contra ti" (Salmo 40:5).

Na verdade, aquelas pessoas não tinham muitas opções ao se verem enfermas. A medicina grega, impulsionada por Hipócrates, era praticada em cidades importantes, como Tiberíades e Séforis, mas certamente não passava perto de vilarejos como Nazaré e Cafarnaum. Mesmo se um médico estivesse disposto a ir até lá, os honorários eram por demais elevados para aquelas pobres pessoas.

Tampouco podiam peregrinar até os famosos templos de Esculápio (deus da medicina), ou aos santuários de Ísis e Serápis, divindades curadoras. Também não podiam banhar-se em fontes sagradas consideradas terapêuticas. E se por ventura conseguissem chegar a esses lugares, não tinham condições de pagar as caras oferendas que ali eram exigidas.

As vezes, era possível recorrer aos hasidim (magos, exorcistas). Eram homens piedosos, como Honi, o famoso traçador de círculos. Sua atuação não era de caráter mágico, mas se devia ao favor de Deus. No entanto, estes homens apenas curavam, e o faziam quando Deus os permitia.

Jesus era diferente. Embora suas técnicas fossem semelhantes a dos hasidim (p. exemplo por saliva nos olhos dos enfermos), sua atuação ia muito além da cura. Jesus se apoia no amor curador de Deus, que se compadece dos que sofrem. Jesus não intervém para causar dano, impedir amores ou desfazer-se de inimigos. Também não intervém para que alguém receba uma cura, simplesmente. Jesus cura o sofrimento. Jesus muda o rumo da vida do enfermo.

Para Jesus, curas não são feitos isolados, fazem parte da sua proclamação do reino de Deus. É sua maneira de anunciar esta grande notícia: Deus está chegando, e os mais desgraçados podem experimentar seu amor compassivo. As surpreendentes curas de Jesus são sinal de humildade, de um mundo novo, da nova realidade que Deus quer para todos.

O exemplo de Jesus nos ensina a ver a dor das pessoas. Talvez Você não seja um missionário e não possa ir ao Camboja oferecer uma simples dipirona para aliviar a dor de alguém que sofre de osteoporose e sequer foi diagnosticado (sim, uma dipirona é luxo nas áreas pobres do Camboja), talvez não possa auxiliar pessoas portadores de HIV/AIDS como Kay Warren, ou mesmo possa ajudar os recém desabrigados da tragédia em Mariana-MG. No entanto, existe alguém enfermo ao seu lado. Jesus não procurou os grandes desastres do oriente médio para atuar, simplesmente atuou por onde passava.

Portanto, seu vizinho, seu porteiro, seus primos, seus irmãos, seus pais, seus avós, seus colegas de estudo ou trabalho, são pessoas próximas a você e que podem estar enfermas. A enfermidade dessas  pessoas não está estampada na capa do jornal, mas nem por isso é menos importante. As vezes a enfermidade dessas pessoas se origina no simples vazio que há em seus corações, a espera de Jesus. E muitas vezes, é você e só você quem pode cura-lo.

Enfermidade no corpo ou na alma, tanto faz. Precisam de cura.

Sigamos o exemplo de Jesus e levemos esperança e libertação aos que estão enfermos.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O Pão da Vida


Volta e meia ouço nas igrejas ministros e pastores anunciarem "Jesus é o pão da vida". No entanto, estou convencido de que o significado deste axioma é desconhecido pelos que o ouvem, e por muitos dos que o pronunciam.

Tudo começa na Pesach (páscoa). A páscoa é celebrada anualmente desde os tempos de Moisés (aprox. 1.280 A.C.) no dia 14 de nisan (este é o primeiro mês do calendário judeu, e começa entre os meses que conhecemos como março e abril). No dia 15 de nisan começa uma festa que dura sete dias, a festa dos pães sem fermento, ou pães Ázimos.

Os pães sem fermento (não levedados) Trazem o significado da páscoa judia e também cristã. O que fermento? No contexto bíblico, fermento pode ser leite, ovo... qualquer ingrediente possa ser adicionado à massa e "contaminá-la", causando fermentação. Quando não há fermento numa casa judia durante a páscoa, simbolicamente aquela casa está pura, ou purificada.

Uma vez que chamamos Jesus de "pão da vida", estamos dizendo que Ele é como o pão ázimo: não recebeu fermento, não foi contaminado pelo pecado. Também estamos dizendo que Jesus é para nossa alma o mesmo que o pão ázimo é para nosso corpo: Quando o aceitamos ou comemos o pão, estamos dizendo que Ele é nossa fonte de vida e sustento. 

O pão ázimo (Matzo em hebraico) é traspassado, moído, assim como Jesus foi ferido por nós; levado ao fogo, assim como Jesus foi provado na cruz; e encontrado verdadeiro, digno de confiança.

Agora que entendemos que Jesus é o pão da vida e o que isso significa, precisamos compreender o que é ingerir do pão da vida que é Jesus. Não se trata de uma questão metafísica, reservada ao campo do subjetivismo. É verdade que há um encontro, um momento especial. No entanto, se fosse só isso, Jesus não teria desenvolvido seu ministério, mas tão somente seu sacrifício.

Comer do pão da vida significa ver o mundo pela ótica de Jesus. E a ótica de Jesus é o que este blog procura abordar em primeiro lugar, pois trata-se da horizontalidade da salvação. Nós fomos criados para nos relacionarmos com Deus, mas também com o próximo. Jesus dedicou-se principalmente aos excluídos e oprimidos. Jesus é Deus dos desamparados, dos impotentes e indefesos. Jesus assistiu quem precisava, e convoca a você e a mim para fazermos o mesmo.

Não pense você que, uma vez ingerido o pão da vida, não há mais nada que você possa fazer. o reino de Deus começa na terra, a partir do momento que você o leva para aqueles que precisam mais de você.

domingo, 1 de novembro de 2015

Penso, Logo Deus Existe



O que faz você pensar? 

Qualquer pensamento tem uma origem. Mas qual é essa origem? A resposta mais simples e óbvia e que nosso cérebro que nos faz pensar.

Mas tente responder estas perguntas: de que cor é um pensamento? Que forma tem? Qual seu comprimento, massa, peso...? Quanto tempo leva para pensar?  Quando você pensa em episódios da infância ou em pessoas que conheceu, como essas lembranças ficam guardadas?  Como você acessa esses dados sempre que quer?  

A revista Newsweek publicou recentemente uma matéria comparando o cérebro de duas pessoas em estados mentais diferentes. As imagens coloridas feitas por ressonância magnética nos mostram um cérebro "normalmente consciente" e um cérebro de um budista em meditação profunda (samádi). Essas imagens mostram que áreas cerebrais diferentes "iluminam-se" de maneira correspondente aos diferentes estados do cérebro, influenciados por estados diferentes da mente. Entretanto, como lembra o filósofo Alfred Korzybski"um mapa não é um território". Os estados cerebrais são efeitos de causas que pertencem à mente.

Uma fotografia do cérebro não é uma fotografia da mente nem da consciência. Não há fotografia da mente porque a mente não é uma coisa física. Não podemos tirar fotografias de volições, intenções, atitudes, crenças, apegos, desapegos, concepções, significados, imagens de si mesmo, alegrias ou tristezas, porque essas coisas se originam na mente, e só se espelham no cérebro. O cérebro é o ponto de convergência entre a mente e o corpo físico. A mente tem propriedades que independem do cérebro.

... E o que é a mente? A mente é a consciência, e determina - em parte - o estado cerebral. Neste sentido, mostrar a imagem de um cérebro iluminado de determinada forma e afirmar que isso explica o samádi pode ser comparado a mostrar a fotografia de um pinheiro enfeitado de determinada maneira e afirmar que isso "explica" o natal.

O que nos faz pensar não é o cérebro, mas a consciência. E, em última análise, é o que nos faz concluir sobre a existência do sobrenatural. 

Assim como as formas físicas de energia radiante, o pensamento tem propriedades como amplitude, frequência, intensidade. E, por outro lado, também tem propriedades como apego, sentimento, discernimento... questões que têm a ver com a alma, com quem verdadeiramente somos. E estas são as mesmas propriedades que serão mantidas quando Deus nos transferir do corpo físico para um corpo glorificado, preparado para a eternidade.

Somos o que pensamos. Pensamos o que somos. 

Natural e sobrenatural!  Deus nos fez assim.  O cérebro morre, a mente não. Pensamentos e sentimentos continuarão conosco mesmo após a morte. 


René Descartes, em seu ceticismo, afirmou "cogito ergo sum" (penso, logo existo). Hoje, o legado de Descartes e de seu filho, o Iluminismo, nos permitem dizer, com toda certeza: Penso, logo Deus existe.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Quem Precisa de Amor?


Quem precisa do seu amor? Você já se fez esta pergunta? Já parou para pensar que enquanto você está sentado em um restaurante com ar-condicionado durante seu horário de almoço existem pessoas realmente necessitadas? Não me refiro aos milhões de órfãos desabrigados na África ou os refugiados da guerra na Síria cruzando o mediterrâneo em direção a Europa. Falo do porteiro do seu prédio, do irmão que você quase nunca vê por falta de tempo, do sobrinho que não simpatiza porque sempre "queimou o filme" da família, da idosa viúva do andar de baixo. Todas estas pessoas estão próximas, ma talvez você nunca tenha pensado que elas têm problemas e necessidades. É por isso que Martin Buber desenvolveu a noção do eu-tu, que significa tratar o outro sempre como uma pessoa (tu) e nunca como uma coisa (isto).

As vezes as necessidades destes que nos cercam são reais, como o que comer ou vestir, as vezes são abstratas, como carência de atenção. Mas você só vai ser capaz de perceber isso se começar a olhar para os outros como tu, e não como isto. Se agir assim, você pode acabar descobrindo ser o único capaz de ajuda-las, e amenizar seu sofrimento.

Jesus uma vez contou uma parábola desconcertante: "Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto. Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado. Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve compaixão. Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e disse-lhe: 'Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver'"

Agora se imagine como um dos ouvintes de Jesus: você já peregrinou mais de uma vez a Jerusalém e conhece bem essa região desértica e perigosa. Sabe como é difícil não topar com assaltantes que se refugiam nestes barrancos e desfiladeiros. É de seu conhecimento também que, esta rota, ao mesmo tempo perigosa, é bastante frequentada. Sacerdotes e levitas passam por ali toda semana depois de terem exercido seus serviços no templo, a caminho de Jericó, importante cidade sacerdotal. Também passam por ali peregrinos e comerciantes com destino a Jerusalém, levando suas mercadorias para a capital.

Ao ouvir falar de um homem assaltado e deixado semimorto na valeta do caminho, você que conhece o lugar e os perigos, sente simpatia e piedade em seu coração. Afinal, é uma vítima inocente, abandonada num caminho solitário e que precisa de ajuda urgente. Este homem poderia ser você! Como não sentir compaixão por ele?

Pare e reflita: na sua vida hoje, quem está sofrendo próximo a você, e que o motivo de dor que o acomete poderia não ter atingido ele, mas sim você?

No caminho daquele homem, felizmente, apareceram dois viajantes: primeiro um sacerdote e depois um levita. Ambos vêm do templo. Já realizaram suas obrigações por lá e estão retornando a sua cidade. O ferido os vê chegar cheio de esperança: são de seu próprio povo; representam o templo, sem dúvida terão compaixão dele. Mas ao se aproximarem, os dois têm a mesma reação: passam pelo outro lado da estrada. Por quê? Têm medo dos assaltantes? Não querem tocar num desconhecido ensanguentado e semimorto para não ficarem impuros (isso os faria ter que retornar e só poderem retomar a viagem dias depois)? Você se sente escandalizado com a falta de compaixão desses dois homens. Como não ajudar um homem abandonado a uma morte quase certa?

No horizonte aparece um terceiro viajante. Não é sacerdote ou levita, não vem do templo. Sequer pertence ao povo eleito. É um odiado samaritano. Provavelmente um comerciante dedicado a seus negócios. O ferido o vê chegar com temor. Pode-se esperar dele o pior. Chegará a liquidá-lo? Mas o samaritano vê o ferido, sente compaixão e aproxima-se dele. Faz pelo ferido tudo o que pode: desinfeta suas feridas com vinho, suaviza a dor com azeite, enfaixa-o para proteger suas feridas da poeira do deserto, coloca-o sobre sua própria montaria, leva-o à hospedaria mais próxima, cuida dele e arca com todos os gastos que forem necessários. Este homem, definitivamente, não parece alguém preocupado com suas mercadorias; assemelha-se mais a uma mãe cuidando com ternura do filho ferido.

Sabe, o conceito abordado por Jesus nesta parábola rompe todas as barreiras. É muito mais profundo do que inicialmente imaginamos. Jesus vê o reino de Deus na compaixão de um odiado samaritano. Já não há classificação entre amigos e inimigos, entre membros ou não de seu corpo (a igreja), entre puros e impuros, entre ricos e pobres. A misericórdia de Deus pode vir de fora do templo, de fora dos canais religiosos "oficiais", pode vir de um inimigo! É desconcertante. Jesus olha a vida a partir da sarjeta, com os olhos das vítimas necessitadas de ajuda. Não há dúvida que para Jesus a melhor metáfora de Deus é a compaixão para alguém ferido. Física ou emocionalmente.

O reino de Deus torna-se presente onde as pessoas atuam com misericórdia. Até um inimigo ou um renegado podem ser instrumento e encarnação do amor compassivo de Deus. A mensagem de Jesus constitui um verdadeiro desafio para todos nós: É preciso esquecer preconceitos e inimizades seculares, é preciso reordenar valores. É preciso estender a misericórdia de Deus a todos e despir-se de valores provincianos de grupos sociais.

A pergunta que você deve se fazer é: "Quem tem necessidade de que eu me aproxime dele, me torne próximo e responda à sua necessidade?" É o sofrimento de qualquer ser humano caído no caminho que nos deve ensinar como agir com amor compassivo.