Basta ser humano para potencializar todo tipo de dor e sofrimento. Todos nós sofremos mais cedo ou mais tarde, e a maioria das pessoas passa uma parte grande do seu tempo buscando evitar, fugir ou transformar o sofrimento.
Sogyal Rinpoche, grande mestre budista tibetano, ensina que todo sofrimento tem origem nos martírios gêmeos de ter e de não ter. Se o sofrimento humano reduz-se ao ter e não ter, não me atrevo a opinar. Mas sei que sempre se pode sofrer, e por qualquer número de razões. Pode-se sofrer por causa do passado ou do futuro. Pode-se sofrer por si mesmo ou pelos outros. Pode-se sofrer pelo que se tem ou não se tem. Pode-se sofrer por crenças ou descrenças. Pode-se sofrer porque Deus nos faz sofrer ou porque Ele não nos faz parar de sofrer. Pode-se sofrer porque se está vivo ou porque se está morrendo. Pode-se sofrer em nome do amor, da arte, da ambição ou do próprio sofrimento. Pode-se sofrer porque se sofre demais ou de menos. E pode-se sofrer porque nos recusamos a extinguir nosso sofrimento e, em vez disso, fazemos os outros sofrerem também.
Jó talvez tenha experimentado todos esses tipos de sofrimento. A Teodiceia (a justiça de Deus diante do sofrimento humano), em última análise, é um mistério para nós. Mas nem por isso deixa de nos apresentar lições. A história de Jó levanta a possibilidade de nunca sabermos o motivo do sofrimento ter nos acometido. Em contrapartida, também acena com a reconfortante ideia de que Deus oferece a si mesmo, sua presença amorosa como sustento durante o sofrimento.
Jesus ensinou que devemos buscar ser parecidos com ele, ou seja, com Deus. Isto significa que Deus espera que também nos ofereçamos, assim como Ele o faz, como alento ao sofrimento de terceiros.
Seja qual for o motivo do seu sofrimento, guardá-lo para si, fugir dele ou repassá-lo não trará solução definitiva. Transformá-lo em bem é o que Jesus faria, e espera que façamos. Transformar algo doloroso para você em algo útil para os outros. Se você consegue, através do seu sofrimento, perceber o sofrimento alheio, pode ajudar o outro a dar fim ao sofrimento. Dessa maneira, mesmo que você não seja capaz de se ver livre por completo do seu sofrimento, irá diminuí-lo ao ajudar a diminuir o sofrimento dos outros. Transformar seu próprio sofrimento no não sofrimento dos outros é a maior realização que se pode aspirar na vida. E é este o objetivo explícito de Jesus para sua vida.
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