sábado, 28 de novembro de 2015

O Homem, a Religião e o Sofrimento


Ser um religioso dedicado não elimina no homem sua predisposição ao sofrimento. As dores da alma são algo que se aproxima de todos: jovens e idosos, homens e mulheres, crentes e incrédulos. Pessoas sofrem. Religiosos sofrem. Não religiosos, também.

Se Deus é infalível, superior e tudo pode,  então por que permite o sofrimento?

As escrituras sagradas nos ensinam a viver e compartilhar amor, paz, tolerância e esperança, mas também nos trazem fatos que registram o sofrimento vivido por homens piedosos, obedientes e amigos de Deus. Daniel, , Davi, Pedro, Paulo, Moisés, Ester, Noemi, Maria e mesmo Jesus!... em algum momento sofreram. Acaso o sofrimento desses homens e mulheres dá pistas de algo falível no caráter de Deus? Certamente, não.

Engana-se quem associa religião, hábitos de ida à igreja, leitura da Bíblia, orações e/ou boas ações como um tipo de passaporte para a vida leve e sem sofrimento neste mundo. Associar religião à falta de tristezas é um caminho enganoso, que mais cedo ou mais tarde, vai se provar falso. Foi Jesus quem nos advertiu que teríamos aflições no mundo (João 16.33). Por que então insistir que a prática religiosa reduz as chances do sofrimento?

Deus não se relaciona conosco através da religião, mas pelas situações da vida que potencialmente nos aproximam de seu amor e nos ensinam a depender dele. Jesus não ofereceu ao homem uma religião, pelo contrário, convidou todos a romperem com as práticas que valorizavam mais os processos que as pessoas; mais os processos que a adoração sincera.

Com seu exemplo, Jesus nos ensinou a transformar sofrimento em vida. A vida de Jesus abençoa a nossa, e em ciclo virtuoso, nossa vida pode abençoar a de nosso próximo. Isso é fantástico! E como isso acontece na prática? É a religião? É a caridade? É o amor?

É a intimidade com os ensinamentos de Cristo que pode transformar  nossa capacidade de amar (e de permitir ser amado) em meio à dor.

Agir como o Mestre nos ensinou é praticar o amor, que em última análise é o melhor unguento para o sofrimento.


Pedro Madsen & Jaci Madsen

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Ahhh, o Sofrimento...


Basta ser humano para potencializar todo tipo de dor e sofrimento. Todos nós sofremos mais cedo ou mais tarde, e a maioria das pessoas passa uma parte grande do seu tempo buscando evitar, fugir ou transformar o sofrimento.

Sogyal Rinpoche, grande mestre budista tibetano, ensina que todo sofrimento tem origem nos martírios gêmeos de ter e de não ter. Se o sofrimento humano reduz-se ao ter e não ter, não me atrevo a opinar. Mas sei que sempre se pode sofrer, e por qualquer número de razões. Pode-se sofrer por causa do passado ou do futuro. Pode-se sofrer por si mesmo ou pelos outros. Pode-se sofrer pelo que se tem ou não se tem. Pode-se sofrer por crenças ou descrenças. Pode-se sofrer porque Deus nos faz sofrer ou porque Ele não nos faz parar de sofrer. Pode-se sofrer porque se está vivo ou porque se está morrendo. Pode-se sofrer em nome do amor, da arte, da ambição ou do próprio sofrimento. Pode-se sofrer porque se sofre demais ou de menos. E pode-se sofrer porque nos recusamos a extinguir nosso sofrimento e, em vez disso, fazemos os outros sofrerem também.

talvez tenha experimentado todos esses tipos de sofrimento. A Teodiceia (a justiça de Deus diante do sofrimento humano), em última análise, é um mistério para nós. Mas nem por isso deixa de nos apresentar lições. A história de Jó levanta a possibilidade de nunca sabermos o motivo do sofrimento ter nos acometido. Em contrapartida, também acena com a reconfortante ideia de que Deus oferece a si mesmo, sua presença amorosa como sustento durante o sofrimento.

Jesus ensinou que devemos buscar ser parecidos com ele, ou seja, com Deus. Isto significa que Deus espera que também nos ofereçamos, assim como Ele o faz, como alento ao sofrimento de terceiros.

Seja qual for o motivo do seu sofrimento, guardá-lo para si, fugir dele ou repassá-lo não trará solução definitiva. Transformá-lo em bem é o que Jesus faria, e espera que façamos. Transformar algo doloroso para você em algo útil para os outros. Se você consegue, através do seu sofrimento, perceber o sofrimento alheio, pode ajudar o outro a dar fim ao sofrimento. Dessa maneira, mesmo que você não seja capaz de se ver livre por completo do seu sofrimento, irá diminuí-lo ao ajudar a diminuir o sofrimento dos outros. Transformar seu próprio sofrimento no não sofrimento dos outros é a maior realização que se pode aspirar na vida. E é este o objetivo explícito de Jesus para sua vida.

sábado, 21 de novembro de 2015

A Enfermidade e a Cura


Todo enfermo anseia por um dia libertar-se da sua enfermidade a fim de desfrutar novamente de uma vida sadia.

Nos tempos de Jesus, ao ver-se enfermo, o israelita, em geral recorria a Deus. Examinava sua vida, confessava seus pecados diante de Deus e pedia pela cura. As vezes recitava um dos muitos salmos compostos por enfermos: "Tem piedade de mim, Senhor, cura-me, porque pequei contra ti" (Salmo 40:5).

Na verdade, aquelas pessoas não tinham muitas opções ao se verem enfermas. A medicina grega, impulsionada por Hipócrates, era praticada em cidades importantes, como Tiberíades e Séforis, mas certamente não passava perto de vilarejos como Nazaré e Cafarnaum. Mesmo se um médico estivesse disposto a ir até lá, os honorários eram por demais elevados para aquelas pobres pessoas.

Tampouco podiam peregrinar até os famosos templos de Esculápio (deus da medicina), ou aos santuários de Ísis e Serápis, divindades curadoras. Também não podiam banhar-se em fontes sagradas consideradas terapêuticas. E se por ventura conseguissem chegar a esses lugares, não tinham condições de pagar as caras oferendas que ali eram exigidas.

As vezes, era possível recorrer aos hasidim (magos, exorcistas). Eram homens piedosos, como Honi, o famoso traçador de círculos. Sua atuação não era de caráter mágico, mas se devia ao favor de Deus. No entanto, estes homens apenas curavam, e o faziam quando Deus os permitia.

Jesus era diferente. Embora suas técnicas fossem semelhantes a dos hasidim (p. exemplo por saliva nos olhos dos enfermos), sua atuação ia muito além da cura. Jesus se apoia no amor curador de Deus, que se compadece dos que sofrem. Jesus não intervém para causar dano, impedir amores ou desfazer-se de inimigos. Também não intervém para que alguém receba uma cura, simplesmente. Jesus cura o sofrimento. Jesus muda o rumo da vida do enfermo.

Para Jesus, curas não são feitos isolados, fazem parte da sua proclamação do reino de Deus. É sua maneira de anunciar esta grande notícia: Deus está chegando, e os mais desgraçados podem experimentar seu amor compassivo. As surpreendentes curas de Jesus são sinal de humildade, de um mundo novo, da nova realidade que Deus quer para todos.

O exemplo de Jesus nos ensina a ver a dor das pessoas. Talvez Você não seja um missionário e não possa ir ao Camboja oferecer uma simples dipirona para aliviar a dor de alguém que sofre de osteoporose e sequer foi diagnosticado (sim, uma dipirona é luxo nas áreas pobres do Camboja), talvez não possa auxiliar pessoas portadores de HIV/AIDS como Kay Warren, ou mesmo possa ajudar os recém desabrigados da tragédia em Mariana-MG. No entanto, existe alguém enfermo ao seu lado. Jesus não procurou os grandes desastres do oriente médio para atuar, simplesmente atuou por onde passava.

Portanto, seu vizinho, seu porteiro, seus primos, seus irmãos, seus pais, seus avós, seus colegas de estudo ou trabalho, são pessoas próximas a você e que podem estar enfermas. A enfermidade dessas  pessoas não está estampada na capa do jornal, mas nem por isso é menos importante. As vezes a enfermidade dessas pessoas se origina no simples vazio que há em seus corações, a espera de Jesus. E muitas vezes, é você e só você quem pode cura-lo.

Enfermidade no corpo ou na alma, tanto faz. Precisam de cura.

Sigamos o exemplo de Jesus e levemos esperança e libertação aos que estão enfermos.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O Pão da Vida


Volta e meia ouço nas igrejas ministros e pastores anunciarem "Jesus é o pão da vida". No entanto, estou convencido de que o significado deste axioma é desconhecido pelos que o ouvem, e por muitos dos que o pronunciam.

Tudo começa na Pesach (páscoa). A páscoa é celebrada anualmente desde os tempos de Moisés (aprox. 1.280 A.C.) no dia 14 de nisan (este é o primeiro mês do calendário judeu, e começa entre os meses que conhecemos como março e abril). No dia 15 de nisan começa uma festa que dura sete dias, a festa dos pães sem fermento, ou pães Ázimos.

Os pães sem fermento (não levedados) Trazem o significado da páscoa judia e também cristã. O que fermento? No contexto bíblico, fermento pode ser leite, ovo... qualquer ingrediente possa ser adicionado à massa e "contaminá-la", causando fermentação. Quando não há fermento numa casa judia durante a páscoa, simbolicamente aquela casa está pura, ou purificada.

Uma vez que chamamos Jesus de "pão da vida", estamos dizendo que Ele é como o pão ázimo: não recebeu fermento, não foi contaminado pelo pecado. Também estamos dizendo que Jesus é para nossa alma o mesmo que o pão ázimo é para nosso corpo: Quando o aceitamos ou comemos o pão, estamos dizendo que Ele é nossa fonte de vida e sustento. 

O pão ázimo (Matzo em hebraico) é traspassado, moído, assim como Jesus foi ferido por nós; levado ao fogo, assim como Jesus foi provado na cruz; e encontrado verdadeiro, digno de confiança.

Agora que entendemos que Jesus é o pão da vida e o que isso significa, precisamos compreender o que é ingerir do pão da vida que é Jesus. Não se trata de uma questão metafísica, reservada ao campo do subjetivismo. É verdade que há um encontro, um momento especial. No entanto, se fosse só isso, Jesus não teria desenvolvido seu ministério, mas tão somente seu sacrifício.

Comer do pão da vida significa ver o mundo pela ótica de Jesus. E a ótica de Jesus é o que este blog procura abordar em primeiro lugar, pois trata-se da horizontalidade da salvação. Nós fomos criados para nos relacionarmos com Deus, mas também com o próximo. Jesus dedicou-se principalmente aos excluídos e oprimidos. Jesus é Deus dos desamparados, dos impotentes e indefesos. Jesus assistiu quem precisava, e convoca a você e a mim para fazermos o mesmo.

Não pense você que, uma vez ingerido o pão da vida, não há mais nada que você possa fazer. o reino de Deus começa na terra, a partir do momento que você o leva para aqueles que precisam mais de você.

domingo, 1 de novembro de 2015

Penso, Logo Deus Existe



O que faz você pensar? 

Qualquer pensamento tem uma origem. Mas qual é essa origem? A resposta mais simples e óbvia e que nosso cérebro que nos faz pensar.

Mas tente responder estas perguntas: de que cor é um pensamento? Que forma tem? Qual seu comprimento, massa, peso...? Quanto tempo leva para pensar?  Quando você pensa em episódios da infância ou em pessoas que conheceu, como essas lembranças ficam guardadas?  Como você acessa esses dados sempre que quer?  

A revista Newsweek publicou recentemente uma matéria comparando o cérebro de duas pessoas em estados mentais diferentes. As imagens coloridas feitas por ressonância magnética nos mostram um cérebro "normalmente consciente" e um cérebro de um budista em meditação profunda (samádi). Essas imagens mostram que áreas cerebrais diferentes "iluminam-se" de maneira correspondente aos diferentes estados do cérebro, influenciados por estados diferentes da mente. Entretanto, como lembra o filósofo Alfred Korzybski"um mapa não é um território". Os estados cerebrais são efeitos de causas que pertencem à mente.

Uma fotografia do cérebro não é uma fotografia da mente nem da consciência. Não há fotografia da mente porque a mente não é uma coisa física. Não podemos tirar fotografias de volições, intenções, atitudes, crenças, apegos, desapegos, concepções, significados, imagens de si mesmo, alegrias ou tristezas, porque essas coisas se originam na mente, e só se espelham no cérebro. O cérebro é o ponto de convergência entre a mente e o corpo físico. A mente tem propriedades que independem do cérebro.

... E o que é a mente? A mente é a consciência, e determina - em parte - o estado cerebral. Neste sentido, mostrar a imagem de um cérebro iluminado de determinada forma e afirmar que isso explica o samádi pode ser comparado a mostrar a fotografia de um pinheiro enfeitado de determinada maneira e afirmar que isso "explica" o natal.

O que nos faz pensar não é o cérebro, mas a consciência. E, em última análise, é o que nos faz concluir sobre a existência do sobrenatural. 

Assim como as formas físicas de energia radiante, o pensamento tem propriedades como amplitude, frequência, intensidade. E, por outro lado, também tem propriedades como apego, sentimento, discernimento... questões que têm a ver com a alma, com quem verdadeiramente somos. E estas são as mesmas propriedades que serão mantidas quando Deus nos transferir do corpo físico para um corpo glorificado, preparado para a eternidade.

Somos o que pensamos. Pensamos o que somos. 

Natural e sobrenatural!  Deus nos fez assim.  O cérebro morre, a mente não. Pensamentos e sentimentos continuarão conosco mesmo após a morte. 


René Descartes, em seu ceticismo, afirmou "cogito ergo sum" (penso, logo existo). Hoje, o legado de Descartes e de seu filho, o Iluminismo, nos permitem dizer, com toda certeza: Penso, logo Deus existe.