PM's assassinam jovens por confundi-los com bandidos
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/11/cinco-jovens-sao-mortos-no-rio-e-parentes-das-vitimas-culpam-pm.html
Esta notícia traz consigo uma série de questões bíblicas[1] e
pode ser analisadas à luz do evangelho. Podemos observar desigualdade social,
despreparo profissional, crueldade, desespero... uma lista quase infinita de
adjetivos negativos.
Este tipo de situação se repete rotineiramente em nossas grandes cidades devido a
ausência quase total de valores cristãos, mas que também podem ser encontrados
em outras religiões. O cristianismo, quando presente nos altos escalões do
governo, i.e., não um governo cristão como defendera João Calvino, mas pessoas que
compõem a máquina dotadas dos valores pregados por Cristo, evita este tipo de
situação por caminhar em direção oposta. Não há educação nem saúde e, com isso,
tampouco oportunidades de carreiras para as camadas mais baixas da sociedade.
Assim sendo, a criminalidade aumenta. Como também não há segurança, o poder paralelo
se estabelece como autoridade máxima nos guetos. Por questões de imagem, os
políticos não admitem estado de calamidade e, por que não, guerra contra os
déspotas e ditadores locais. Deste modo, o policiamento local, preparado para
questões urbanas, tem que lidar com questões militares, como é o caso do poder
paralelo usurpador do território soberano do estado. Nas ruas da cidade, o
policial tenta ser policial. Nos arredores das comunidades, ele se torna um
soldado. Acontece que dentro das comunidades moram pessoas que trabalham fora
da comunidade e, de algum modo, apesar de muitas vezes aceitarem os
“pseudobenefícios” oferecidos pelo tráfico, sentem-se como os demais moradores
da cidade, e não têm consciência do estado de guerra em que os poderes se
encontram. Na guerra não há piedade, e o policial sabe disso, pois muitos de
seus companheiros caíram nas mãos dos bandidos e eles sabem as consequências.
Assim sendo, por extinto natural humano, o policial reage agindo sem piedade
para com seus inimigos. Na guerra é assim. Mas, para todos os efeitos, não há guerra. Assim,
quando um ato de guerra, por engano atinge civis que não fazem parte da guerra,
surge indignação.
O policial não é um vilão, é um coitado, manipulado pelo sistema. Mas isso
não tira a culpa de cada um dos envolvidos em tentar alterar a cena, apesar de
isso ser um ato de desespero de quem vive toda essa situação e sequer tem plena
consciência dela. As vítimas, pelo menos não sentiram dor. Coitados são seus
familiares, em situação mais desesperadora que a do policial. Estes são,
literalmente, vítimas das vítimas. Tanto pelo lado da polícia, representante do
estado, como pelo lado do poder paralelo, opositor ao estado. Policiais, jovens, familiares, bandidos... são todos vítimas. Vítimas do nosso Leviatã: o estado brasileiro.
A aplicação direta e pragmática do cristianismo é uma opção válida. No entanto, nesta instância, é como morfina para o soldado baleado em campo de batalha, é enxugar gelo. Podem (e devem) ser feitas ações sociais de todos os tipos levando um pouco de alívio a algumas das vítimas. No entanto, a solução definitiva vem de cima para baixo. É preciso que pessoas de coração puro participem e influenciem diretamente nas ações do governo em todos os seus ministérios, para que este ciclo vicioso que começa na ausência de educação, saúde e segurança seja interrompido. O voto deve ser valorizado e os cristãos devem se aproximar da política. Não uma aproximação como já vimos diversas vezes, tentando cristianizar o estado, mas uma aproximação com a mentalidade do Reino, da vocação ensinada por Lutero. Uma aproximação com o olhar para o próximo, e não para dentro da igreja.
[1] A
utilização deste termo nesta construção pode parecer biblicista, posição que
este autor não sustenta. A palavra aqui representa todo o universo cristão e,
em especial, sua dimensão horizontal