Nos últimos dias, o universo Batista brasileiro tem vivido uma grande polêmica, mas que diz respeito a toda a cristandade mundial. Recentemente, a Igreja Batista do Pinheiro, sediada há 46 anos em Maceió-AL, após longo período de oração e reflexão decidiu batizar e aceitar como membros pessoas homossexuais. Esta decisão causou enorme frenesi entre as igrejas ligadas à CBB (Convenção Batista Brasileira). A maioria dos pastores e líderes ligados à denominação Batista consideram a atitude da igreja errada, e por esta razão pretendem expulsá-la da Convenção. Eis um pequeno trecho de uma nota emitida por um grupo de pastores autodenominados conservadores: "Nós, pastores, irmãos e irmãs [...] fiéis a palavra de Deus [...] manifestamos [...] que a Igreja Batista do Pinheiro [...] entrou em colisão com a bíblia".
À luz da Bíblia, gostaria de refutar a soberba nota.
Primeiramente pergunto: o que é pecado? Se pecado são somente atitudes externas e politicamente condenáveis, então de fato, a igreja não deve ter pecadores entre os seus. No entanto, o apóstolo João fez uma surpreendente afirmação, cerca de dois mil anos atrás: "se dissermos que não temos pecado algum, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós" 1 João 1:8. Ora, se aceitamos as palavras de João, então não podemos dizer que qualquer de nós está livre do pecado. Existem pecados internos, e é por isso que o rei Davi ora a Deus no Salmo 139 pedindo que o Senhor sonde seu coração, examine sua vida e lhe diga os caminhos que ainda não são puros, para que ele possa tentar mudar.
No entanto, antes mesmo de João escrever estas palavras, ninguém menos que o nosso Senhor Jesus, quando confrontado em situação semelhante, declarou: "aquele que não tem pecado atire a primeira pedra." Esta passagem está no capítulo 8 do evangelho de João e narra o episódio de uma mulher pega em adultério. Naquele tempo, a mulher flagrada em adultério era tão mal vista como aquele que se declara gay nos dias de hoje em um ambiente eclesiástico.
Ora, se a igreja é considerada como corpo de Jesus, e se Jesus jamais afastou de si pessoas de "má fama", com que base bíblica a igreja contemporânea alega que "pecadores" não podem fazer parte da membresia? Estaria esta igreja adotando postura semelhante àqueles que queriam apedrejar a pobre mulher?
Não encontrei nessas passagens (nem no restante da bíblia) alguma alusão à diferença ou grau de pecado. Jesus jamais apontou para alguns pecados como sendo piores que outros. Assim sendo, pergunto aos irmãos conservadores o critério seletivo utilizado para o batismo. Gays não podem ser batizados? Pessoas fofoqueiras, egoístas, falsas, desonestas, corruptas, mal educadas, agressores físicos e/ou verbais etc também são identificados e expulsos de suas igrejas? Tomando o homossexualismo como pecado à luz de Levítico e Paulo, ainda assim não há motivos para gays não serem aceitos como membros de igrejas Batistas ou de qualquer outra denominação, caso prefiram.
Esta polêmica toda gira em torno do batismo (que "não salva"). No entanto, os passos de Jesus sinalizam que ele se importava mais com as pessoas do que com as circunstâncias que as envolviam. Talvez esta discussão fosse mais sadia se apontasse para o "pós-batismo". Como esta igreja vai lidar com seus novos membros? Será que estão preparados para tamanho desafio, orientar estes novos cristãos na busca por Cristo e um relacionamento sadio com ele? São perguntas importantes dignas de serem respondidas.
Está escrito: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu seu filho unigênito para que TODO AQUELE QUE NELE CRER, não pereça, mas tenha a vida eterna." (João 3.16). A igreja de Cristo precisa ser coerente e aceitar pecadores que professem sua fé em Jesus. Precisamos ser semelhantes a Cristo, e não a saduceus ou fariseus.
Que o Senhor possa quebrantar nossos corações.
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