terça-feira, 11 de agosto de 2015

Jesus e o Calvinismo - parte 2

Moisés Amyraut

Como vimos no texto anterior, o calvinismo não representa o pensamento do reformador, João Calvino, e sim de seu sucessor, Teodoro Beza. A ênfase na predestinação, sendo apresentada como anterior a salvação, nunca foi pregada por Calvino.

No entanto, nem todos os teólogos posteriores a Calvino seguiram o escolasticismo de Beza. Moisés Amyraut (1596-1664) empreendeu um estudo completo de As Institutas. Embora sua teologia não tenha resistido a ferocidade da necessidade de exclusividade do escolasticismo reformado, sua teologia é hoje conhecida como calvinismo de quatro pontos (amyraldismo). - O calvinismo de hoje é o calvinismo de cinco pontos (acróstico TULIP, em inglês: Total depravaty [depravação total], Uncondicional election [eleição incondicional], Limited atonement [expiação limitada], Irresistible grace [graça irresistível] e Perseverance of the saints [perseverança dos santos]).

Não é difícil de se imaginar que a questão principal da teologia de Amyraut em contraposição ao consenso da reforma girava em torno da doutrina da predestinação. Amyraut rejeitava a popular valorização da doutrina como ponto de integração do entendimento teológico. Em vez disso, à semelhança de Calvino, posicionou a doutrina da predestinação como posterior à da salvação, como forma de explicar por que alguns creem no evangelho e outros não.

Amyraut argumentou que a questão girava em torno da dicotomia entre a vontade secreta de Deus e sua vontade revelada. Se por um lado a vontade revelada de Deus é de que todos cheguem a salvação, por outro, sua vontade secreta é de que é imprescindível que alguns alcancem-na. Ele explica essa distinção através de um sistema filosófico interessante, observando que há duas maneiras de se manifestar a vontade: a) fazer conhecida essa vontade (ou desejo); b) esforçar-se para fazer que ela se concretize.

Deste modo, conclui-se que Deus tem uma "vontade-desejo", que simplesmente expressa o que ele quer, e uma "vontade-vontade", a qual determina que algo acontecerá. Portanto, Deus deseja/almeja que todos cheguem a salvação, mas em sua vontade, é indispensável que algumas pessoas recebam a fé e sejam salvas.

Me parece mais peculiar a pessoa de Deus e a existência humana que, se Amyraut não atingiu a precisão absoluta em sua conclusão a respeito da eleição, chegou muito mais próximo que a ideia de expiação limitada de Beza e dos calvinistas modernos.

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