quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Ortodoxismo



"Presume conhecer a verdade e não está disposto a aprender; constitui soberba e arrogância tomar para si as prerrogativas divinas da infalibilidade e da inerrância; ele odeia toda verdade que não lhe seja familiar e a persegue até as últimas consequências"
Esta é a definição de "ortodoxismo" de Charles Augustus Briggs, grande teólogo do séc. XIX.

Infelizmente, apesar da cultura pós-moderna nos incentivar a buscar novidades e inovações, teólogos e pastores contemporâneos abraçam dogmas e doutrinas ultrapassados, se prendendo ao velho e rejeitando o novo. Esta postura, apesar de compreensível, é extremamente contraproducente. Enquanto perdem tempo debatendo e tentando convencer pessoas que determinada maneira de celebrar a ceia não é permitida, mendigos passam fome nas ruas.

É impossível saber tudo sobre Deus ou o universo, caso contrário, Deus não seria Deus e o universo mais finito que nossa ínfima existência. Logo, qualquer doutrina que alega ter todas as respostas, já fracassou ao ignorar o seu fracasso. Ora, se não sabemos tudo, então há espaço para novidades. Isso sem mencionar o fato de o próprio Deus se comunicar com pessoas e povos, ao longo da história, dentro dos limites de entendimento cognitivo, científico e cultural de cada época. Portanto, querer levar o texto bíblico ao pé da letra é, na melhor das hipóteses, anti-bíblico. Imagine se nossos casamentos fossem arranjados por pais de adolescentes como na época de Cristo? Jesus não se opôs a isto, mas ele sabia que fazia parte daquele tempo e daquela cultura. Hoje é incabível em nossa cultura, mas pela ótica literalista, talvez devesse ser a regra.

Quando a igreja foi confrontada com a verdade de que a terra não é o centro do universo o sol não gira em torno dela, e sim o oposto, bispos e sacerdotes se apressaram em desmentir Galileu, na esperança de "proteger" ou "defender" a sabedoria de Deus e da bíblia. Mas Jesus não pediu advogados, pediu?

Aceitar uma nova ótica sobre uma realidade da vida cristã não significa que Deus, a bíblia ou a igreja estavam errados, mas sim que houve muitas verdades em diversas localidades e épocas diferentes, e hoje há uma nova verdade. Maior prova disso é ver o Deus dos Exércitos de Josué, Davi e outros e saber que Deus não se manifesta mais desta forma porquê, se o fizesse nos dias atuais, no mínimo, teria um sentido oposto ao pretendido por Ele e que de fato foi atingido naquela época.

Não tenhamos medo de mudar, não tenhamos medo do novo. Deus está no velho, mas também está no novo.

A Incoerência Maligna do Ser Humano



O ser humano é engraçado...

Quando a tragédia o ataca, inevitavelmente, a certa altura, ele reflete: "por que eu?". No entanto, ele jamais fará essa pergunta se ganhar na loteria. Se um filho se comporta bem, o ser humano se parabeniza. Mas se o filho se rebela, esse mesmo ser humano culpa o filho.

Thomas Hobbes acertou quando disse que o ser humano é auto-referente. Ele (ser humano) assume a responsabilidade pelas coisas boas e se dissocia das ruins para preservar seus próprios interesses. Existe um "quê" de maligno na essência do ser humano.

Jesus, por outro lado, vai contra esta tendência malévola do homem quando o estimula a viver o amor altruísta a 24x7. É um exercício diário que, invariavelmente, vez por outra, será perdido. Mas isso não é motivo para deixar de tentar.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Das Trevas para a Luz




A caverna. Escura, fria, abafada, úmida demais... um péssimo lugar para se viver. Porém, para os que dela nunca saíram e só a ela conhecem, simplesmente ‘lar, doce lar’. 

Este é o conhecimento de senso comum: estreito, limitado, porém seguro de si mesmo; certo de si mesmo. Assim é a caverna: o pequeno campo do senso comum, onde o não saber é, na verdade, o imutável saber, e reina soberano sobre seus cativos escravos. As sombras, projeções toscas e simples do real, são tudo o que se conhece dentro da caverna. Por este motivo, os cativos supõem que sejam os próprios objetos; a própria verdade. As correntes que aprisionam a maioria dos homens dentro da caverna devem (ou, pelo menos, deveriam) ser rompidas. Se assim acontecesse, embora resistente num primeiro momento, o homem que rompeu as correntes (ou teve suas correntes rompidas) descobrirá a luz do Sol e compreenderá que o Sol é a causa de tudo o que vê ao redor; causa da luz, da visão e dos objetos da visão. Deste modo, passaria do estágio cognitivo do pensamento para o da compreensão.

O objetivo da educação, para os que estão fora da caverna, é, uma vez resgatado um prisioneiro, arrastá-lo para o mais longe possível da caverna; não para inserir gota a gota o conhecimento em sua alma, mas para voltar toda a sua alma para o Sol, que é a Forma do Bem. Uma vez fora da caverna, o prisioneiro fica relutante para descer de novo para a caverna e se envolver nas coisas humanas. Ele amaldiçoa aquele lugar. Sente sorte por seu destino e desprezo pela (falta de) sorte dos que ficaram. Sua visão não está mais acostumada ao escuro e ele pareceria ridículo àqueles que outrora foram seus semelhantes. Assim acontece. Ao voltar à caverna, os cativos dizem a ele que sair para o exterior de nada vale e lá fora nada se aprende, pelo contrário, os homens retornam enxergando menos. No entanto, aquele que já contemplara o Sol, após se acostumar novamente com as trevas, sabendo a origem e o ser verdadeiro das sombras, logo se movimentaria, mesmo ali no mundo subterrâneo, melhor e de maneira mais hábil que os outros cativos e, caso tivesse paciência e perseverança, poderia demonstrar a sua sabedoria aos prisioneiros. Assim é a vida do filósofo. Assim é a vida do cristão.

"Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo escolhido de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz." 1Pedro 2:9

Leia novamente o texto, desta vez substituindo as seguintes palavras:
→ Caverna por Mundo
→ Senso Comum por não Cristão
→ Correntes por Pecado
→ Sol por Deus

terça-feira, 26 de julho de 2016

A verdade por Trás dos Fatos - Uma Perspectiva Cristã

PM's assassinam jovens por confundi-los com bandidos

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/11/cinco-jovens-sao-mortos-no-rio-e-parentes-das-vitimas-culpam-pm.html

Esta notícia traz consigo uma série de questões bíblicas[1] e pode ser analisadas à luz do evangelho. Podemos observar desigualdade social, despreparo profissional, crueldade, desespero... uma lista quase infinita de adjetivos negativos.

Este tipo de situação se repete rotineiramente em nossas grandes cidades devido a ausência quase total de valores cristãos, mas que também podem ser encontrados em outras religiões. O cristianismo, quando presente nos altos escalões do governo, i.e., não um governo cristão como defendera João Calvino, mas pessoas que compõem a máquina dotadas dos valores pregados por Cristo, evita este tipo de situação por caminhar em direção oposta. Não há educação nem saúde e, com isso, tampouco oportunidades de carreiras para as camadas mais baixas da sociedade. Assim sendo, a criminalidade aumenta. Como também não há segurança, o poder paralelo se estabelece como autoridade máxima nos guetos. Por questões de imagem, os políticos não admitem estado de calamidade e, por que não, guerra contra os déspotas e ditadores locais. Deste modo, o policiamento local, preparado para questões urbanas, tem que lidar com questões militares, como é o caso do poder paralelo usurpador do território soberano do estado. Nas ruas da cidade, o policial tenta ser policial. Nos arredores das comunidades, ele se torna um soldado. Acontece que dentro das comunidades moram pessoas que trabalham fora da comunidade e, de algum modo, apesar de muitas vezes aceitarem os “pseudobenefícios” oferecidos pelo tráfico, sentem-se como os demais moradores da cidade, e não têm consciência do estado de guerra em que os poderes se encontram. Na guerra não há piedade, e o policial sabe disso, pois muitos de seus companheiros caíram nas mãos dos bandidos e eles sabem as consequências. Assim sendo, por extinto natural humano, o policial reage agindo sem piedade para com seus inimigos. Na guerra é assim. Mas, para todos os efeitos, não há guerra. Assim, quando um ato de guerra, por engano atinge civis que não fazem parte da guerra, surge indignação.

O policial não é um vilão, é um coitado, manipulado pelo sistema. Mas isso não tira a culpa de cada um dos envolvidos em tentar alterar a cena, apesar de isso ser um ato de desespero de quem vive toda essa situação e sequer tem plena consciência dela. As vítimas, pelo menos não sentiram dor. Coitados são seus familiares, em situação mais desesperadora que a do policial. Estes são, literalmente, vítimas das vítimas. Tanto pelo lado da polícia, representante do estado, como pelo lado do poder paralelo, opositor ao estado. Policiais, jovens, familiares, bandidos... são todos vítimas. Vítimas do nosso Leviatã: o estado brasileiro.

A aplicação direta e pragmática do cristianismo é uma opção válida. No entanto, nesta instância, é como morfina para o soldado baleado em campo de batalha, é enxugar gelo. Podem (e devem) ser feitas ações sociais de todos os tipos levando um pouco de alívio a algumas das vítimas. No entanto, a solução definitiva vem de cima para baixo. É preciso que pessoas de coração puro participem e influenciem diretamente nas ações do governo em todos os seus ministérios, para que este ciclo vicioso que começa na ausência de educação, saúde e segurança seja interrompido. O voto deve ser valorizado e os cristãos devem se aproximar da política. Não uma aproximação como já vimos diversas vezes, tentando cristianizar o estado, mas uma aproximação com a mentalidade do Reino, da vocação ensinada por Lutero. Uma aproximação com o olhar para o próximo, e não para dentro da igreja.

[1] A utilização deste termo nesta construção pode parecer biblicista, posição que este autor não sustenta. A palavra aqui representa todo o universo cristão e, em especial, sua dimensão horizontal

domingo, 17 de julho de 2016

A Felicidade -em poucas palavras-



Felicidade. Para muitos, erroneamente confundida com alegria. A alegria é uma emoção que é gerada toda vez que algo de bom, seja esperado ou não, acontece. Diferente é a felicidade; esta é um estado de espírito. Jesus nos deu boas pistas para a felicidade ao descrever as bem-aventuranças, relatadas no livro de Mateus 5:3-12.

Ser feliz é entender que a realização não está numa meta estabelecida, isto é, não é a promoção no trabalho, a compra de um sonhado imóvel ou a obtenção de um diploma. Ser feliz é entender que, seja qual for a meta, percorrer o caminho até ela é a grande conquista. Epicuro (filósofo grego) estava certo quando, há mais de dois mil anos, ensinou que devemos aproveitar cada momento da vida. Não como se fosse o último, isto seria hedonismo, mas entendendo que são únicos, acontecem uma só vez.

Feliz é o que chora, o que ri, o que sofre, o que abandona ou supera o sofrimento, o que ama, o que é amado, o que perde um grande amor, o que é traído e sente o coração esmagado... enfim, feliz é todo aquele que vive a vida sem esperar dela mais do que ela possa dar, vivendo efetivamente cada momento.

O que a Bíblia diz Sobre o Dízimo?



Acesse sua bíblia e boa leitura!

O dízimo é santo (Lv. 27:30), disso nós sabemos. Também estamos cientes que é nossa responsabilidade o sustento da "instituição igreja" (Ml. 3:10a). Mas você já se perguntou o que a bíblia, como um todo, diz a respeito deste assunto tão delicado e, por vezes, tão incômodo para alguns?

Ao longo de toda a escritura sagrada, o único registro de que o próprio Senhor se dispõe a ser provado, é em relação aos dízimos (Ml. 3:10b). Deus promete bênçãos (não necessariamente materiais) aos que ofertam com o coração (Ml. 3:11-12). A bíblia também afirma que tudo o que existe pertence ao Pai (Sl. 24:1), tudo o que temos vem de Suas mãos, (1Cr. 29:14), e que a entrega dos dízimos nos ensina a ser tementes ao Senhor (Dt. 14:23). Os que participam com alegria e sinceridade, estes são amados por Deus (2Co. 9:6-8).

Ao dizimar com alegria, me afasto da avareza (1Tm. 6:10), e tudo o que peço, recebo (Mt. 7:7-9). Obedeço a Deus (At. 5:29) e sei que minha descendência não passará fome ou qualquer outra necessidade básica (Sl. 37:25).

Sendo dizimista de coração, minha consciência permanece tranquila (1Tm. 1:19), sei que receberei de Deus com a mesma medida (Lc. 6:38) e que meu salário não será posto em um saco furado (Ag. 1:6). Tenho certeza que Deus suprirá toda necessidade (Fp. 4:19) através do meu trabalho, me abençoará e me permitirá colher daquilo que eu plantar (Gl. 6:7).

"Há maior felicidade em dar do que em receber" - Atos 20:35

terça-feira, 12 de abril de 2016

Sobre Legalistas e Gays



Nos últimos dias, o universo Batista brasileiro tem vivido uma grande polêmica, mas que diz respeito a toda a cristandade mundial. Recentemente, a Igreja Batista do Pinheiro, sediada há 46 anos em Maceió-AL, após longo período de oração e reflexão decidiu batizar e aceitar como membros pessoas homossexuais. Esta decisão causou enorme frenesi entre as igrejas ligadas à CBB (Convenção Batista Brasileira). A maioria dos pastores e líderes ligados à denominação Batista consideram a atitude da igreja errada, e por esta razão pretendem expulsá-la da Convenção. Eis um pequeno trecho de uma nota emitida por um grupo de pastores autodenominados conservadores: "Nós, pastores, irmãos e irmãs [...] fiéis a palavra de Deus [...] manifestamos [...] que a Igreja Batista do Pinheiro [...] entrou em colisão com a bíblia".

À luz da Bíblia, gostaria de refutar a soberba nota.

Primeiramente pergunto: o que é pecado?  Se pecado são somente atitudes externas e politicamente condenáveis, então de fato, a igreja não deve ter pecadores entre os seus. No entanto, o apóstolo João fez uma surpreendente afirmação, cerca de dois mil anos atrás: "se dissermos que não temos pecado algum, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós" 1 João 1:8. Ora, se aceitamos as palavras de João, então não podemos dizer que qualquer de nós está livre do pecado. Existem pecados internos, e é por isso que o rei Davi ora a Deus no Salmo 139 pedindo que o Senhor sonde seu coração, examine sua vida e lhe diga os caminhos que ainda não são puros, para que ele possa tentar mudar.

No entanto, antes mesmo de João escrever estas palavras, ninguém menos que o nosso Senhor Jesus, quando confrontado em situação semelhante, declarou: "aquele que não tem pecado atire a primeira pedra." Esta passagem está no capítulo 8 do evangelho de João e narra o episódio de uma mulher pega em adultério. Naquele tempo, a mulher flagrada em adultério era tão mal vista como aquele que se declara gay nos dias de hoje em um ambiente eclesiástico.

Ora, se a igreja é considerada como corpo de Jesus, e se Jesus jamais afastou de si pessoas de "má fama", com que base bíblica a igreja contemporânea alega que "pecadores" não podem fazer parte da membresia? Estaria esta igreja adotando postura semelhante àqueles que queriam apedrejar a pobre mulher?

Não encontrei nessas passagens (nem no restante da bíblia) alguma alusão à diferença ou grau de pecado. Jesus jamais apontou para alguns pecados como sendo piores que outros. Assim sendo, pergunto aos irmãos conservadores o critério seletivo utilizado para o batismo. Gays não podem ser batizados? Pessoas fofoqueiras, egoístas, falsas, desonestas, corruptas, mal educadas, agressores físicos e/ou verbais etc também são identificados e expulsos de suas igrejas? Tomando o homossexualismo como pecado à luz de Levítico e Paulo, ainda assim não há motivos para gays não serem aceitos como membros de igrejas Batistas ou de qualquer outra denominação, caso prefiram.

Esta polêmica toda gira em torno do batismo (que "não salva"). No entanto, os passos de Jesus sinalizam que ele se importava mais com as pessoas do que com as circunstâncias que as envolviam. Talvez esta discussão fosse mais sadia se apontasse para o "pós-batismo". Como esta igreja vai lidar com seus novos membros? Será que estão preparados para tamanho desafio, orientar estes novos cristãos na busca por Cristo e um relacionamento sadio com ele? São perguntas importantes dignas de serem respondidas.

Está escrito: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu seu filho unigênito para que TODO AQUELE QUE NELE CRER, não pereça, mas tenha a vida eterna." (João 3.16). A igreja de Cristo precisa ser coerente e aceitar pecadores que professem sua fé em Jesus. Precisamos ser semelhantes a Cristo, e não a saduceus ou fariseus.

Que o Senhor possa quebrantar nossos corações.